A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) ficou mais comum nos últimos anos e por isso bem mais conhecida, inclusive pelos pacientes. Mas é bom ter cuidado ao achar que qualquer sintoma pode ser alergia ao leite. Vamos esclarecer um pouco sobre isso?
A APLV acontece quando, por algum motivo, nosso sistema imunológico reconhece a proteína do leite de vaca como “um problema, um agressor” e monta uma resposta contra essa proteína causando os sintomas da alergia. Essa resposta imune pode ser mediada pelo anticorpo IgE (conhecido como anticorpo das alergias) ou não. Nos bebês a APLV não mediada por IgE é mais comum. Então vamos falar um pouco sobre ela.
A APLV não mediada por IgE pode se manifestar no bebê desde os primeiros meses de vida, mesmo que esteja em aleitamento materno exclusivo, porque a proteína do leite de vaca que a mãe consome passa pelo leite materno. Os principais sintomas são vômitos, dor abdominal, irritabilidade, baixo ganho de peso, diarréia, sangue nas fezes. Importante lembrar que alguns desses sintomas podem aparecer por outros motivos como cólica do recém nascido e refluxo gastroesofágico, condições mais comuns nos bebês do que a alergia ao leite.
O diagnóstico definitivo é feito através da exclusão do leite da dieta da mãe nos bebês em aleitamento materno e com uso de fórmulas especiais para alergia nos casos dos que usam fórmula, avaliando se há melhora dos sintomas. Havendo melhora com a exclusão, fazemos o que chamamos de teste de provocação oral (TPO), quando a mãe volta a consumir leite e derivados ou o bebê retoma o uso da fórmula de vaca e avaliamos se os sintomas retornam.
O prognóstico (ou seja, a evolução) de quem tem APLV não IgE mediada costuma ser muito bom, tendo a maioria dos casos se resolvido até 2 anos de vida.
Atenção a alguns conceitos que geram confusão:
- APLV é diferente de intolerância a lactose! A lactose não é uma proteína do leite e sim um açúcar. A intolerância à lactose é bem mais comum em adultos / idosos, nas crianças essa intolerância pode ocorrer de forma transitória após quadros de diarréia viral. Portanto o leite de vaca sem lactose é para quem tem intolerância. Quem tem alergia ao leite não pode consumir esses leites ok?
- Bebês com diagnóstico de APLV podem (e devem!) continuar mamando no peito. Basta a mãe fazer exclusão do leite de vaca e derivados da sua dieta, sempre orientada pelo alergista e nutricionista especialista em alergia.
- NÃO existem atualmente exames específicos para diagnóstico da APLV não mediada pelo IgE. Esse diagnóstico é feito através da história clínica e do exame físico, aliados ao TPO, sendo que às vezes podem ser pedidos exames para avaliar outras causas para os sintomas.
- Leite de outros mamíferos como o de cabra NÃO são indicados para quem tem alergia, pois existe alta taxa de reação cruzada (90%). A mesma coisa vale para o leite de soja, não recomendado como substituto em quem tem APLV não mediada pelo IgE. Na suspeita de APLV, seu pediatra ou alergologista irá orientar uma fórmula especial para alérgicos.
Portanto, se seu bebê apresenta algum dos sintomas mencionados, converse com seu pediatra para avaliar a possibilidade de ser APLV e se é necessária avaliação do alergologista ou gastropediatra. Tão importante quanto fazer o diagnóstico correto é descartar APLV se esse não for o caso e evitar exclusões desnecessárias!
A APLV mediada por IgE é bem diferente da que discutimos aqui e ficará como tema de uma postagem futura, combinado?
Dúvidas deixem nos comentários e não esqueçam que nenhuma postagem substitui a consulta médica